Obesidade e Infarto Agudo do Miocárdio: entendendo a conexão perigosa
- Giovanni Mayer Leite
- 18 de fev.
- 3 min de leitura
A obesidade é um dos principais fatores de risco para doenças cardiovasculares, incluindo o infarto agudo do miocárdio (IAM). Como cardiologista, é meu dever explicar de forma clara como o excesso de peso desencadeia uma série de mecanismos fisiopatológicos que culminam nesse evento grave.

Vamos simplificar esse processo:
Passo a passo: como a obesidade prepara o terreno para o infarto
1. Inflamação crônica e estresse oxidativo
- O tecido adiposo (gordura) em excesso, principalmente a gordura visceral (abdômen), não é apenas um depósito de energia. Ele funciona como um órgão ativo, liberando substâncias inflamatórias chamadas citocinas pró-inflamatórias (ex.: IL-6, TNF-α).
- Essa inflamação persistente danifica os vasos sanguíneos e promove o estresse oxidativo, que lesiona o endotélio (camada interna das artérias).
2. Resistência à Insulina e Diabetes Tipo 2
- A obesidade está intimamente ligada à resistência à insulina, condição em que o corpo não usa adequadamente a insulina. Isso eleva os níveis de glicose no sangue, levando ao diabetes tipo 2.
- O excesso de glicose no sangue agride as artérias, acelerando a formação de placas de ateroma (acúmulo de gordura e células inflamatórias nas paredes arteriais).
3. Dislipidemia: colesterol LDL elevado e Triglicerídeos
- A obesidade altera o perfil lipídico: aumenta o LDL ("colesterol ruim") e os triglicerídeos, enquanto reduz o HDL ("colesterol bom").
- O LDL penetra nas artérias lesionadas pelo estresse oxidativo e forma placas ateroscleróticas. Essas placas estreitam as artérias coronárias, reduzindo o fluxo de sangue para o coração.
4. Hipertensão Arterial
- O excesso de peso sobrecarrega o coração e aumenta a resistência vascular, elevando a pressão arterial.
- A pressão alta acelera o desgaste das artérias e favorece o rompimento das placas de ateroma, liberando coágulos que podem obstruir completamente uma artéria coronária.
5. Apneia do sono e hipóxia intermitente
- A obesidade é a principal causa da síndrome da apneia obstrutiva do sono (SAOS). Durante as pausas na respiração, há queda nos níveis de oxigênio no sangue (**hipóxia**).
- A hipóxia repetida aumenta o estresse cardíaco, a inflamação e o risco de arritmias, agravando o risco de infarto.
O Evento final: O Infarto Agudo do Miocárdio
Quando uma placa de ateroma na artéria coronária se rompe, forma-se um coágulo (trombo) que bloqueia abruptamente o fluxo sanguíneo. Sem oxigênio, as células do músculo cardíaco (miocárdio) começam a morrer em minutos. Esse é o infarto.
A obesidade multiplica esse risco porque:
- Acelera a formação de placas vulneráveis (instáveis);
- Aumenta a inflamação que destabiliza as placas;
- Eleva a demanda de oxigênio do coração (já sobrecarregado).
Prevenção: como interromper essa cadeia
A boa notícia é que a perda de peso modesta (5 a 10% do peso corporal) já reduz significativamente esses riscos. Medidas essenciais incluem:
- Dieta equilibrada (evitar ultraprocessados, açúcares e gorduras saturadas);
- Atividade física regular (30 minutos/dia);
- Controle rigoroso da pressão arterial, diabetes e colesterol;
- Tratamento da apneia do sono, se presente.
Mensagem Final
A obesidade não é apenas uma questão estética: é uma condição médica complexa que ataca silenciosamente o coração. Entender essa relação é o primeiro passo para mudanças que salvam vidas. Como cardiologista, reforço: seu peso hoje define a saúde do seu coração amanhã.
Um abraço,
Dr. Giovanni Mayer Leite
Cardiologista
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Este artigo tem caráter informativo e não substitui uma consulta médica.
Agende seu acompanhamento para avaliação personalizada.
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